quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Homem invisível: será que existe?


Ele existe sim, mas não é exatamente como você imagina. 

Há vários homens invisíveis em nossa sociedade, mas se trata de uma invisibilidade social. Você sabe o que é isso?

Todos nós desempenhamos papéis sociais, eu, por exemplo, sou professora todo mundo reconhece a minha importância na sociedade. O médico é outro ser social de muita relevância , pois ele viabiliza uma boa saúde à seus pacientes. O padeiro e o pedreiro também são outras personagens sociais.  Mas e o catador de papel, ou de residuoas sólidos ? Você já viu esse sujeito social? Já notou a sua presença na sociedade ou ele é mais um homem invisível para você?

De uns anos pra cá o evento "invisibilidade social " têm sido estudado por cientistas tais quais os sociólogos e os psicólogos .

Um estudo etnográfico feito em Fortaleza nos permite ouvir a voz de um catador :

“Quando eu recolhia matéria na rua sofri vários tipos de agressões, mas o que me marcou foi quando motorista do ônibus acelerou para me atropelar, fora este fato, houveram motoristas de carros que já bateram no meu carrinho com material dentro e derramou tudo na pista ”. 
O lugar até então ocupado no imaginário coletivo era de que o catador de papel poderia ser um bandido, alguém que faz mal às outras pessoas. No entanto não é isso o que acontece, um estudo feito por Suman e publicado na revista da USP traz uma fala de um catador de papel, leia-a:
(...) É duro quando chove, esses dia eu durmi duas noite molhado. Quê futuro dá isso aí ? Eu quando tenho um dinherinho, sento num bar e tomo uma cerveja. Cerveja e pinga, no tempo frio é muito bom, te esquenta. Chego e peço 3, já pago 3, porque se eu for embora bêbo, já tá pago. Quando me chamam prá fazê coisa errada, num vô de jeito ninhum, prefiro comê do lixo, mendigá. (Paulo)  
O fato de catar papel, de muitas vezes morar na rua não implica em ser um bandido. Precisamos compreender que a atividade de catar resíduos é uma atividade laboral, ou seja, é um trabalho.  

E em Belo Horizonte, qual é a nossa história com os catadores de resíduos sólidos para a reciclagem? 

Nosso catadores também  sofreram com o preconceito daqueles que desconhecem a importância da reciclagem de resíduos, sendo muitas vezes  perseguidos e humilhados. Na década de 80 houve inclusive um incêndio que, acredita-se criminoso, no local que hoje funciona como Asmare. 

Com a ajuda da Pastoral de Rua da Arquidiocese, que faziam reuniões com os catadores até em baixo dos viadutos, a história dos catadores de resíduos de Belo Horizonte mudou e se tornou exemplo para o mundo, isso mesmo, para além do Brasil.

Esse trabalho da pastoral  foi iniciado na década de 1980 e teve como objetivo promover a organização desses homens e mulheres, estimulando-os a batalharem pela valorização de seu trabalho. 

Pretendia-se, sobretudo, promover o resgate da cidadania dessas pessoas, antes condenadas a viver nas ruas e desprovidas de qualquer direito. Por isso, em 1º de maio de 1990, foi fundada a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte, a Asmare. 
Ela resultou, portanto, de uma intensa mobilização, por meio de atos públicos, ocupação de espaços para a triagem de recicláveis e protestos encaminhados à Câmara de Vereadores da capital mineira. Assumindo um papel reivindicatório junto à municipalidade, a Associação marcou o início do movimento organizado de luta pelos direitos da população de rua. Essa luta está provocando transformações no imaginário social e forçando a administração pública a romper com uma postura histórica em relação aos catadores como incapazes de se defenderem. Eles migraram, então, de uma situação de marginalidade para o reconhecimento por parte do poder público municipal de serem parceiros na realização da coleta seletiva de lixo. Em 1992 foi iniciada a construção de um galpão da Asmare pela prefeitura. Essa foi uma importante vitória do movimento, que deu início à longa marcha de resgate da dignidade dessas pessoas e como trabalhadores. A organização dos catadores em âmbito municipal se consolidou e se espraiou por Minas Gerais, e em muito pouco tempo, pelo país. Hoje se firma o Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável (MNCR), garantidor de uma categoria de trabalhadores reconhecida pela classificação brasileira de ocupação (CBO).

Sugiro que você assista às reportagens a seguir para que possamos dar continuidade à nossa discussão sobre o lixo com uma abordagem não apenas científica e tecnológica, mas também social. 






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