segunda-feira, 13 de março de 2017

Malária: regiões endêmicas no Brasil



A transmissão da malária no Brasil está basicamente restrita à região que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, que formam a chamada área endêmica. Porém, a letalidade é 100 vezes maior fora dessa região. É o que demonstram dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Por isso, manter uma unidade sentinela de vigilância da malária fora desta área é uma segurança para a saúde pública do viajante que tem como rota o norte do país e de outros locais onde a enfermidade existe. 

“Fora da área endêmica o quadro febril inespecífico pode ser confundido com outras doenças febris, levando ao diagnóstico e tratamentos tardios”, 

explica a infectologista Patrícia Brasil, do Programa de Extensão Pesquisa–Serviço (Pepe) de Doenças Febris Agudas do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz. 

A Fundação, em conjunto com a Anvisa, produziu uma cartilha sobre prevenção e reconhecimento precoce da malária que será distribuída em breves nos portos e aeroportos com todas as informações sobre a doença como medida preventiva para o viajante. Além disso, o Ipec faz o aconselhamento e o atendimento do viajante que chega ao Rio de Janeiro com febre.


Mapa com dados da incidência parasitária anual da malária 


A Fiocruz, por meio do Ipec, funciona como uma unidade sentinela de malária, fazendo atendimento ao viajante com febre.

 “Os sintomas da malária podem aparecer entre sete a 30 dias após a infecção, dependendo da espécie do parasita e, muitas vezes manifestações como a febre só ocorre na volta da viagem dos que tiveram como rota as regiões endêmicas. 
Por isso, a importância de se ter uma unidade sentinela em malária na região extra-amazônica”

afirma a infectologista.


“Tivemos um caso de óbito de uma missionária brasileira que foi à África e apresentou febre 15 dias após a sua chegada ao Brasil. Foi atendida em hospitais da rede pública e privada do Rio de Janeiro, onde o quadro foi confundido com dengue. Quando a paciente foi encaminhada para a Fiocruz, chegou ao Instituto com mais da metade das hemácias parasitadas, o que lhe conferia um quadro grave, com rápida evolução para óbito. Por isso o profissional de saúde deve investigar a história de viagem em qualquer paciente com febre”, afirma Patrícia.

O aumento do número de viajantes com destino a regiões intertropicais e endêmicas da doença torna necessária a criação de centros especializados de aconselhamento e atendimento ao viajante, principalmente porque não há vacina para a doença. 

“O Ipec conta com o Ambulatório de Doenças Febris Agudas, onde é feito o aconselhamento e o atendimento do viajante que chega ao Rio de Janeiro com febre. O trabalho é feito em parceria com o Serviço de Farmácia, que tem a Seção de Farmacovigilância, com o Laboratório de Parasitologia, que dá o suporte laboratorial no diagnóstico da doença, e com a Vigilância Epidemiológica, que notifica os casos e delimita as áreas de risco da doença. Além disso, o Instituto está integrado ao Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Treinamento em Malária da Fiocruz (CPDMAL), referência da SVS para o diagnóstico da doença na região extra-amazônica”, detalha Patrícia.


“O diferencial do atendimento ao viajante no Instituto é o fluxo integrado entre assistência, laboratório e farmácia especializados. O paciente chega ao hospital com febre, recebe o primeiro atendimento por uma equipe constituída de infectologistas preparados para o diagnóstico precoce e manejo clínico dessas doenças e é encaminhado ao laboratório onde outra equipe especializada no diagnóstico faz a pesquisa direta do parasita em menos de 30 minutos. Em seguida, retorna ao ambulatório onde será prescrita a quimioterapia específica para a espécie do Plasmodium. Este indivíduo é encaminhado até a farmácia, que disponibilizará imediatamente os medicamentos e terá toda a orientação da maneira como se deve tomar os remédios”, relata o chefe da Farmácia do Instituto, José Liporage Teixeira, que ratifica que o serviço faz a notificação de agravo de doença da malária para a Funasa, órgão responsável pela reposição dos antimaláricos que posteriormente, entrará em contato com o paciente para confirmar os dados fornecidos pelo Ipec.


Na Farmácia do Instituto é feito ainda um trabalho de farmacovigilância para a malária. “A farmacovigilância pode ser uma importante ferramenta na identificação de problemas relacionados à eficácia e segurança dos tratamentos antimaláricos”, acrescenta a responsável por esse trabalho, a farmacêutica Lusiele Guaraldo. “O monitoramento da qualidade dos medicamentos nas diversas etapas da pós-comercialização, por exemplo, é fundamental na garantia da integridade físico-química e farmacológica do medicamento”, continua Lusiele. Segundo a farmacêutica, o monitoramento clínico-parasitológico do paciente com malária, após o tratamento, permite o reconhecimento e tratamento das complicações e a vigilância de falha terapêutica, sobretudo em uma região extra-amazônica, onde a possibilidade de re-infecção é quase inexistente.


Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a malária só perde para a Aids em número de mortes e cerca de 40% da população mundial vive em áreas onde há risco de transmissão, abrangendo mais de 100 países. "A doença não tem vacina, porém há medidas de prevenção individual que o viajante deve conhecer”, conclui Patrícia.


Disponivel em: https://agencia.fiocruz.br/a-import%C3%A2ncia-da-vigil%C3%A2ncia-em-mal%C3%A1ria-na-regi%C3%A3o-extra-amaz%C3%B4nica.Acesso em 13 de março de 2017.

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